Fisiologia da Lipólise: Mecanismos, Hormônios e Aplicações Clínicas

Vamos aprofundar o conhecimento em mais um tema fundamental para a fisiologia humana: a lipólise, um processo metabólico essencial para a geração de energia, especialmente em momentos de escassez de glicose.

Com este resumo, você vai compreender desde os conceitos básicos até os mecanismos regulatórios envolvidos nesse processo. Boa leitura!


O que é lipólise?

A lipólise é o mecanismo metabólico responsável pela degradação de triglicerídeos armazenados nos adipócitos, com a liberação de ácidos graxos livres (AGLs) e glicerol. Esse processo é especialmente importante durante o jejum, exercícios físicos ou restrição calórica, quando o organismo precisa mobilizar suas reservas de energia.

Os AGLs são liberados na corrente sanguínea e transportados ligados à albumina, sendo usados por tecidos como o fígado e os músculos na β-oxidação. O glicerol, por sua vez, é encaminhado ao fígado, onde pode ser convertido em glicose por meio da gliconeogênese, auxiliando na manutenção da glicemia.


Hormônios que regulam a lipólise

A lipólise é um processo intensamente regulado por hormônios, sendo ativada por hormônios contrarregulatórios e inibida pela insulina.

Hormônios que estimulam a lipólise

  • Catecolaminas (epinefrina e norepinefrina): Atuam via receptores β-adrenérgicos, estimulando a adenilato ciclase, que converte ATP em AMPc. O AMPc ativa a proteína quinase A (PKA), que fosforila a lipase hormônio-sensível (HSL) e promove a quebra dos triglicerídeos.

  • Glucagon: Secretado em resposta à hipoglicemia, estimula a lipólise de forma semelhante às catecolaminas, embora com ação mais significativa no fígado do que nos adipócitos.

  • Cortisol: Estimula indiretamente a lipólise, aumentando a expressão de enzimas lipolíticas e tornando os adipócitos mais sensíveis às catecolaminas.

  • Hormônio do crescimento (GH): Reduz a ação da insulina nos adipócitos e favorece a liberação de AGLs, contribuindo com a mobilização de gordura corporal.

Hormônio que inibe a lipólise

  • Insulina: Principal hormônio anti-lipolítico. Inibe a adenilato ciclase, reduz os níveis de AMPc e bloqueia a ativação da HSL. Além disso, favorece a lipogênese, estimulando a captação de glicose e a síntese de novos triglicerídeos nos adipócitos.


Etapas do processo lipolítico

A lipólise ocorre em etapas coordenadas e altamente reguladas:

  1. Sinal hormonal: Início do processo por ação de hormônios como catecolaminas, glucagon, cortisol e GH, que ativam receptores nas membranas dos adipócitos.

  2. Ativação da adenilato ciclase: Conversão de ATP em AMPc, promovendo a sinalização intracelular.

  3. Ativação da PKA: A proteína quinase A é ativada pelo AMPc e fosforila enzimas envolvidas na quebra de triglicerídeos.

  4. Fosforilação da perilipina: Essa proteína recobre as gotículas lipídicas. Quando fosforilada, permite o acesso das lipases aos triglicerídeos.

  5. Atuação da HSL: A lipase hormônio-sensível quebra os triglicerídeos em diglicerídeos e, posteriormente, em monoglicerídeos, liberando AGLs a cada etapa.

  6. Ação da MGL: A lipase de monoglicerídeo finaliza a degradação, liberando o glicerol.

  7. Liberação de AGLs e glicerol: Os AGLs seguem ligados à albumina até órgãos-alvo; o glicerol é convertido em glicose no fígado.


Destinos metabólicos dos produtos da lipólise

  • Ácidos graxos livres (AGLs): Utilizados por tecidos periféricos como fonte energética, especialmente no fígado e nos músculos, via β-oxidação.

  • Glicerol: Transportado ao fígado, onde é usado na gliconeogênese, sendo convertido em glicose durante períodos de jejum.


Situações em que a lipólise é ativada

A ativação da lipólise ocorre sempre que há necessidade de mobilizar as reservas energéticas:

  • Jejum: Redução da insulina e aumento do glucagon e das catecolaminas estimulam a liberação de AGLs e glicerol.

  • Exercício físico: A demanda energética elevada induz a liberação de catecolaminas, que promovem a lipólise para suprir energia aos músculos.

  • Estresse metabólico (trauma, infecção, cirurgia): Liberação de cortisol e catecolaminas estimula intensamente a lipólise.

  • Dietas hipocalóricas ou restrição calórica: Baixos níveis de insulina e aumento dos hormônios contrarregulatórios promovem a mobilização da gordura corporal.

  • Sono e jejum noturno: A lipólise mantém o fornecimento energético durante o período sem ingestão alimentar.

  • Exercício em jejum: A lipólise é potencializada, favorecendo o uso de gordura como combustível.

  • Diabetes mellitus descompensado: A deficiência de insulina ou resistência insulínica ativa continuamente a lipólise, podendo levar à cetoacidose diabética em casos graves.


Fontes consultadas

  • BERNE & LEVY. Fisiologia, 7ª ed. Elsevier, 2018.

  • SILVERTHORN, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada, 7ª ed. Artmed, 2017.

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