O músculo reto femoral, integrante do grupo dos quadríceps femorais, exerce papel central na locomoção e no desempenho funcional dos membros inferiores. Sua anatomia diferenciada — com atuação em duas articulações — e sua ampla versatilidade biomecânica o tornam alvo frequente de estudos clínicos e anatômicos.
Popularmente, é conhecido como o “músculo do chute”, já que participa de movimentos de extensão vigorosa do joelho, especialmente em esportes que envolvem explosões de força.
A seguir, veja os principais aspectos relacionados ao reto femoral: anatomia, funções, inervação, irrigação, exercícios de fortalecimento e lesões mais comuns.
Conceito de Reto Femoral
O reto femoral é um dos quatro músculos que compõem o quadríceps femoral, localizado na região anterior da coxa. Por estar em posição superficial e apresentar fibras alinhadas quase verticalmente, é facilmente identificado em exames clínicos e de imagem.
Sua estrutura é bipinada, com fibras superficiais oblíquas e fibras profundas orientadas verticalmente. Funcionalmente, atua na extensão do joelho e na flexão do quadril, sendo amplamente recrutado em atividades como corrida, salto e chute.
Anatomia do Reto Femoral
O reto femoral apresenta formato fusiforme e organização bipennada em sua camada superficial. Possui duas origens distintas:
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Cabeça direta: espinha ilíaca ântero-inferior;
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Cabeça indireta: margem superior do acetábulo.
Ambas se unem distalmente, formando um tendão que se insere na base da patela, compondo o tendão do quadríceps. Este, por sua vez, continua inferiormente como ligamento patelar, fixando-se na tuberosidade da tíbia.
Essa configuração permite que o músculo atravesse tanto a articulação do quadril quanto a do joelho — característica que o diferencia dos demais quadríceps.

Vascularização e Inervação
Vascularização
O suprimento sanguíneo do reto femoral é realizado pela artéria femoral, por meio de seus ramos, principalmente o circunflexo lateral, que irriga toda a região dos quadríceps. O retorno venoso ocorre pela veia femoral e suas tributárias.
O sistema linfático da região anterior da coxa drena inicialmente para os linfonodos inguinais superficiais e, em seguida, para os linfonodos ilíacos externos e para-aórticos.
Inervação
A inervação é feita pelo nervo femoral, formado pelas raízes L2, L3 e L4. Os comandos motores se originam no córtex motor primário, descem pelo trato corticoespinhal e alcançam o músculo por meio dos neurônios motores inferiores da medula espinhal.
Função do Reto Femoral
O reto femoral é um músculo biarticular e desempenha funções importantes:
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Extensão do joelho, essencial para caminhar, correr e saltar;
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Flexão do quadril, auxiliando na elevação da coxa.
Ele atua de forma antagônica aos músculos isquiotibiais, promovendo equilíbrio entre flexão e extensão. Entretanto, sua ação pode ser limitada por dois fenômenos:
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Insuficiência ativa: quando a flexão máxima do quadril reduz a força de extensão do joelho.
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Insuficiência passiva: quando a extensão completa do quadril restringe a flexão do joelho pelo alongamento máximo do músculo.
Exercícios para Trabalhar o Reto Femoral
Diversos exercícios recrutam o reto femoral de forma direta ou indireta, especialmente aqueles que combinam extensão do joelho e flexão do quadril:
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Agachamento (squat): ativa todo o quadríceps, com maior exigência no reto femoral em variações como o agachamento frontal.
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Afundo (lunge): enfatiza a extensão do joelho e a estabilidade do quadril, podendo ser intensificado com cargas adicionais.
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Leg press: permite alto recrutamento do reto femoral, sobretudo com ajustes na posição dos pés.
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Cadeira extensora: isola o quadríceps e ativa fortemente o reto femoral.
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Elevação de pernas com peso: foca a flexão do quadril, trabalhando diretamente o músculo.
Lesões no Reto Femoral
As lesões do reto femoral são comuns em esportistas e praticantes de atividades de alta intensidade, devido à sua localização superficial e atuação em duas articulações.
Tipos de lesões
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Estiramento muscular: resultado de alongamento excessivo ou contração abrupta; causa dor aguda, inchaço e limitação funcional.
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Rupturas parciais ou totais: podem ocorrer na origem proximal (quadril) ou na inserção distal (patela). As rupturas completas geralmente necessitam cirurgia.
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Contusões: ocasionadas por impactos diretos na coxa, levando a dor, hematomas e perda temporária da função.
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Miosite ossificante: complicação de lesões graves, com formação de tecido ósseo no interior do músculo.
Tratamento
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Conservador: repouso, gelo, anti-inflamatórios e fisioterapia.
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Cirúrgico: indicado em rupturas completas ou quando não há resposta ao tratamento conservador.
Referências Bibliográficas
MURDOCK, Christopher J.; MUDREAC, Andrew; AGYEMAN, Kofi. Anatomy, Abdomen and Pelvis, Rectus Femoris Muscle. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024.