Guia Completo sobre Estenose Aórtica: da fisiopatologia à terapêutica

A estenose aórtica é uma doença valvar cardíaca caracterizada pelo estreitamento da válvula aórtica, dificultando a saída de sangue do ventrículo esquerdo para a circulação sistêmica. Nos estágios iniciais pode ser assintomática, mas com a progressão tende a provocar dispneia, dor torácica e síncope, impactando significativamente a qualidade de vida.

O diagnóstico é feito por meio de exame físico e confirmado, principalmente, pelo ecocardiograma, que permite avaliar a gravidade da obstrução. O tratamento vai desde o acompanhamento clínico em casos leves até a substituição valvar, realizada por cirurgia convencional ou procedimento transcateter.

Neste artigo, você encontrará as principais causas da estenose aórtica, os sintomas típicos e as modalidades de tratamento atualmente disponíveis.


Causas comuns da estenose aórtica em diferentes faixas etárias

As origens da estenose aórtica variam conforme a idade, refletindo características próprias de cada fase da vida.

Em pacientes com menos de 70 anos

Nos indivíduos mais jovens, a principal causa é a válvula aórtica bicúspide, uma malformação congênita em que a válvula apresenta apenas duas cúspides em vez de três. Embora inicialmente funcional, com o tempo ocorre calcificação progressiva que compromete a abertura valvar.

Outra anomalia congênita possível é a válvula com formato de funil, cuja abertura já é reduzida desde cedo, exigindo esforço maior do coração ao longo dos anos.

Além das alterações congênitas, a febre reumática, ainda comum em regiões com pouco acesso a antibióticos, pode deixar cicatrizes nas válvulas cardíacas e predispor à estenose aórtica, geralmente manifestando-se na idade adulta.

Em pacientes acima de 70 anos

Na população idosa, o fator predominante é o processo degenerativo associado à calcificação das cúspides, conhecido como esclerose aórtica. Esse endurecimento é progressivo e se relaciona ao envelhecimento natural do sistema cardiovascular.

Embora muitos idosos apresentem esclerose sem sintomas, parte deles evolui para estreitamento significativo da válvula, desenvolvendo dispneia e angina. Estima-se que até 25% dos indivíduos acima de 65 anos apresentem algum grau de alteração valvar degenerativa.

A progressão da doença também é acelerada por fatores de risco cardiovasculares acumulados ao longo da vida, como hipertensão, diabetes, dislipidemia, tabagismo e sedentarismo.

Sobrecarga do ventrículo esquerdo

Em qualquer faixa etária, a obstrução valvar aumenta o esforço do ventrículo esquerdo para ejetar sangue, levando à hipertrofia ventricular e, em estágios avançados, à insuficiência cardíaca.


Diagnóstico e principais exames

O reconhecimento precoce da estenose aórtica é essencial para definir o tratamento adequado. A avaliação clínica, associada a exames complementares, permite estabelecer a gravidade do quadro.

Exame físico

Os sintomas clássicos seguem uma sequência evolutiva: dor torácica, síncope e dispneia. No exame físico, o médico pode identificar um sopro sistólico de ejeção, rude, em formato de diamante, mais audível no foco aórtico.

Ecocardiograma

O ecocardiograma é o exame padrão-ouro, fornecendo informações como:

  • área da abertura valvar (quanto menor, maior a gravidade);

  • espessura da parede do ventrículo esquerdo;

  • velocidade do fluxo sanguíneo pela válvula, avaliada com Doppler.

Em casos específicos, pode-se solicitar o ecocardiograma transesofágico para imagens mais detalhadas.

Teste de esforço

Indicado para pacientes assintomáticos com estenose leve ou moderada, avalia a resposta do coração ao exercício físico. Não deve ser realizado em casos graves devido ao risco de complicações.

Cateterismo cardíaco

Utilizado em situações complexas ou pré-operatórias, mede pressões antes e depois da válvula e auxilia na investigação de doença arterial coronariana associada.

Exames complementares

  • Radiografia de tórax: mostra aumento cardíaco ou calcificação valvar;

  • Eletrocardiograma: identifica sobrecarga ventricular e arritmias;

  • TC ou ressonância magnética: úteis no planejamento cirúrgico e na avaliação anatômica detalhada.

O acompanhamento regular com ecocardiograma é essencial, mesmo em pacientes assintomáticos, para monitorar a evolução da doença.


Tipos de tratamento para estenose aórtica

A escolha terapêutica depende da gravidade da obstrução, da presença de sintomas e das condições clínicas do paciente.

Acompanhamento clínico

Nos casos leves e assintomáticos, recomenda-se monitoramento periódico com ecocardiograma e controle de fatores de risco. O uso de medicamentos pode ajudar a aliviar sintomas de insuficiência cardíaca, mas não corrige o estreitamento da válvula.

Valvoplastia por balão

Procedimento menos invasivo, indicado principalmente em crianças e jovens com estenose congênita ou em idosos com contraindicação cirúrgica. O balão dilata temporariamente a válvula, mas a chance de reestenose é alta, tornando o método uma solução paliativa.

Substituição cirúrgica da válvula

É o tratamento de escolha para estenose grave sintomática. Pode ser realizada com:

  • Próteses mecânicas: alta durabilidade (>20 anos), porém exigem uso vitalício de anticoagulantes.

  • Próteses biológicas: menor durabilidade (10–15 anos), mas dispensam anticoagulação prolongada, sendo preferidas em idosos.

Implante de válvula aórtica transcateter (TAVI/IVAT)

Alternativa menos invasiva para pacientes idosos ou de alto risco cirúrgico. A nova válvula é implantada por meio de cateter, geralmente via artéria femoral. A recuperação costuma ser rápida, mas a indicação deve ser individualizada.


Cuidados após o tratamento

Independente da técnica utilizada, o acompanhamento médico contínuo é essencial para avaliar o funcionamento da válvula e prevenir complicações, como endocardite.

Pacientes portadores de próteses valvares necessitam de cuidados específicos:

  • uso de antibióticos profiláticos antes de alguns procedimentos;

  • controle rigoroso de fatores de risco cardiovasculares;

  • adesão a consultas regulares e exames de imagem.

O objetivo final do tratamento é prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida, garantindo que o paciente mantenha suas atividades com segurança.

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