
A Veia Cava Inferior (VCI) é um dos principais vasos do sistema circulatório, encarregada de conduzir o sangue venoso proveniente das regiões inferiores do corpo até o coração. Por sua relevância clínica e anatômica, compreender sua localização, tributárias e relações é fundamental para o estudo da fisiologia e da prática médica.
Localização da Veia Cava Inferior
A veia cava inferior é o maior vaso venoso do corpo humano. Localiza-se na parede abdominal posterior, à direita da aorta e da coluna vertebral, com a função de recolher sangue venoso dos membros inferiores, pelve e abdome.
Ela se origina da junção das veias ilíacas comuns, situada anteriormente à vértebra L5, cerca de 2,5 cm à direita do plano mediano e logo abaixo da bifurcação da aorta. A partir daí, ascende sobre o músculo psoas maior direito, mantendo-se adjacente à aorta abdominal.
No trajeto, atravessa o diafragma pelo forame da veia cava, localizado no centro tendíneo, ao nível da vértebra T8, penetrando na cavidade torácica e seguindo até o átrio direito do coração.
Seu comprimento é aproximadamente 7 cm maior que o segmento abdominal da aorta, devido sobretudo à sua porção intra-hepática. Durante o percurso, é cruzada por diversas estruturas, como:
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artéria ilíaca comum direita;
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raiz do mesentério;
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artéria testicular ou ovárica direita;
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duodeno (partes horizontal e superior);
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cabeça do pâncreas;
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ducto colédoco;
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veia porta.
Tributárias da Veia Cava Inferior
As tributárias da VCI se dividem em viscerais e parietais, refletindo a organização do sistema venoso abdominal.
Tributárias viscerais
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Veia suprarrenal direita: drena diretamente para a VCI (a esquerda desemboca na veia renal esquerda).
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Veias renais: recolhem sangue dos rins; a veia renal esquerda recebe ainda tributárias como a suprarrenal esquerda e a gonadal esquerda.
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Veia gonadal direita (testicular ou ovárica): desemboca diretamente na VCI (a esquerda, primeiro na veia renal).
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Veias hepáticas: transportam sangue do fígado, após o processamento do sistema porta.
Tributárias parietais
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Veias lombares: drenam a parede posterior do abdome e comunicam-se com o sistema ázigo, criando vias colaterais com a veia cava superior.
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Veias frênicas inferiores: recolhem sangue da parte inferior do diafragma.
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Veias ilíacas comuns: resultam da junção das veias ilíacas interna e externa, marcando a origem da VCI.
Vale lembrar que as veias provenientes do trato gastrointestinal, baço, pâncreas e vesícula biliar não chegam diretamente à VCI, pois fazem parte do sistema porta hepático e drenam primeiro no fígado.

Funções da Veia Cava Inferior
A principal função da VCI é garantir o retorno venoso das regiões inferiores do corpo ao átrio direito. Esse mecanismo contribui diretamente para a manutenção do equilíbrio hemodinâmico.
Entre seus papéis fisiológicos, destacam-se:
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Retorno venoso: conduz sangue pouco oxigenado de membros inferiores, abdome e pelve ao coração.
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Manutenção da pressão venosa: ajuda a estabilizar o fluxo sanguíneo e a pressão dentro de limites normais.
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Regulação térmica: transporta sangue mais aquecido das regiões inferiores, colaborando no controle da temperatura corporal.
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Contribuição imunológica: participa indiretamente do transporte de células de defesa provenientes das regiões drenadas.
Principais relações anatômicas da Veia Cava Inferior
No abdome
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Posteriormente: corpos vertebrais lombares (L3–L5), músculo psoas maior direito e aorta abdominal.
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Anteriormente: artéria ilíaca comum direita, raiz do mesentério, parte horizontal do duodeno, cabeça do pâncreas, ducto colédoco, veia porta e fígado (com o qual mantém íntima relação, atravessando sua face posterior).
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Lateralmente:
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Direita: rim direito, glândula suprarrenal direita e artéria renal direita.
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Esquerda: aorta abdominal.
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Inferiormente: origem na junção das veias ilíacas comuns, ao nível de L5.
No diafragma e tórax
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Atravessa o forame da veia cava, no centro tendíneo do diafragma, ao nível de T8, acompanhada pelo nervo frênico direito.
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Após atravessar, posiciona-se no mediastino inferior até desembocar no átrio direito.

Importância clínica
A veia cava inferior, pela sua posição e função, pode estar envolvida em condições clínicas relevantes:
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Síndrome de compressão da VCI (gestação): ocorre quando o útero gravídico comprime a veia em posição supina, gerando hipotensão, tontura, palpitações e dispneia.
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Estase venosa: compressão durante a gestação ou por massas/tumores pode aumentar o risco de edema, varizes e trombose venosa profunda.
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Cirurgias abdominais e retroperitoneais: demandam atenção pela proximidade da VCI a estruturas nobres.
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Aneurisma da aorta abdominal: pode comprimir a VCI, reduzindo o retorno venoso.
Referências
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MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
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DRAKE, R. L.; VOGL, A. W.; MITCHELL, A. W. M. Gray’s anatomia clínica para estudantes. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
