
Hoje vamos explorar um tema essencial para o entendimento da gestação: o líquido amniótico, substância indispensável para o desenvolvimento e a proteção do feto ao longo da gravidez.
Estamos aqui para te apoiar na compreensão deste importante tópico da saúde materno-fetal, contribuindo com seu aprendizado e evolução profissional.
Vamos começar?
Sistema Amniótico
O sistema amniótico é composto pelo âmnio — membrana que recobre o feto — e pelo líquido amniótico, que ocupa o espaço da cavidade amniótica ao redor do feto. Esses dois elementos atuam em conjunto, formando uma estrutura funcional vital para o desenvolvimento fetal.
O âmnio é uma membrana fina e resistente, formada por cinco camadas. A mais interna, o epitélio amniótico, é responsável pela produção de colágeno e glicoproteínas, fundamentais para a constituição da membrana basal.
Essa membrana recobre diretamente o feto e também reveste o cordão umbilical, compondo sua camada epitelial. O âmnio não possui vascularização ou inervação, e sua nutrição provém do líquido amniótico.
Definição de Líquido Amniótico
O líquido amniótico é o fluido que circunda o feto durante toda a gestação, com múltiplas funções essenciais para o seu desenvolvimento. No início da gravidez, especialmente no primeiro trimestre, ele apresenta composição isotônica em relação ao plasma materno e fetal, sendo derivado principalmente do transudato plasmático fetal, que atravessa a pele ainda não queratinizada.
Com o avanço da gestação, a composição do líquido se diferencia do plasma, passando a conter menor osmolaridade e níveis reduzidos de sódio, principalmente devido à diluição causada pela urina fetal.
Na segunda metade da gravidez, a principal origem do líquido passa a ser a urina fetal, além da secreção pulmonar do feto. Sua remoção se dá, principalmente, pela deglutição fetal e pela absorção intramembranosa. Com o tempo, as concentrações de ureia, creatinina e ácido úrico aumentam progressivamente, excedendo as do plasma fetal.
O volume do líquido também sofre alterações durante a gestação, atingindo o pico por volta da 38ª semana, seguido de redução gradativa — especialmente em casos de gestação prolongada.
Funções do Líquido Amniótico
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Proteção contra traumas mecânicos: atua como um amortecedor contra impactos externos.
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Facilitação dos movimentos fetais: permite livre movimentação do feto, prevenindo contraturas musculares.
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Prevenção de aderências: impede a formação de aderências entre o feto e o âmnio.
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Desenvolvimento pulmonar: promove os movimentos respiratórios fetais, essenciais para o crescimento adequado dos pulmões; sua ausência pode causar hipoplasia pulmonar.
Produção de Líquido Amniótico
Durante o primeiro trimestre, o líquido possui osmolaridade semelhante à do plasma. Nessa fase, a principal origem do líquido é a transmissão de água e eletrólitos pela pele fetal, que ainda não apresenta queratinização.
A partir da 10ª semana, os rins fetais iniciam a produção de urina, passando a contribuir para o conteúdo do líquido amniótico.
Nos segundo e terceiro trimestres, a urina fetal se torna a principal fonte de líquido, podendo chegar a uma produção de até 1.224 mL diários ao final da gestação. Alterações nesse processo — como obstruções urinárias ou hipóxia fetal — podem levar à condição conhecida como oligoidrâmnio (redução do líquido amniótico).
Além dos rins, os pulmões fetais também participam da formação do líquido. A partir da 7ª semana, há liberação de líquido pulmonar pela traqueia, parte do qual é deglutida e parte se mistura ao conteúdo amniótico. No termo, os pulmões liberam cerca de 340 mL diários, dos quais metade é incorporada ao líquido amniótico.
Trocas Amnióticas
As trocas do líquido amniótico ocorrem por meio de processos fisiológicos que garantem seu equilíbrio e renovação, essenciais para a proteção e nutrição fetal. A água, principal componente do líquido, atravessa as membranas amniocoriais por gradientes osmóticos ou hidrostáticos, em um processo passivo, sem gasto energético.
Esse movimento se dá de duas maneiras principais:
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Fluxo em massa: ocorre em presença de um gradiente, movimentando grandes volumes de água por meio de tecidos porosos como o âmnio, de maneira mais rápida do que por difusão simples.
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Fluxo através de membranas semipermeáveis: o âmnio é altamente permeável à água, permitindo a passagem de pequenas moléculas (ureia, glicose) mais facilmente que moléculas maiores (como albumina). As macromoléculas exercem importante papel osmótico, regulando o deslocamento hídrico entre o líquido amniótico e os fluidos fetais.
Reabsorção do Líquido Amniótico
A principal via de reabsorção do líquido amniótico é a deglutição fetal, especialmente na segunda metade da gestação. Esse processo é essencial para manter o equilíbrio do volume do líquido. Em situações em que há malformações do trato gastrointestinal, o feto pode não conseguir engolir o líquido adequadamente, resultando em polidrâmnio (excesso de líquido).
Além da deglutição, outra via importante de reabsorção é a via intramembranosa, que envolve a absorção do líquido pelo âmnio da placenta, direcionando-o para os vasos fetais da placa corial. Essa rota compensa o excesso de líquido produzido pelos rins e pulmões, contribuindo para a estabilidade do volume ao longo da gestação. O processo é facilitado por aquaporinas, canais de membrana que permitem a passagem de água e algumas moléculas.
A via transmembranosa, que corresponde à passagem de líquido do âmnio para os vasos maternos na decídua, tem contribuição mínima — cerca de 10 mL por dia no final da gestação.
Referência
MONTENEGRO, Carlos Antonio Barbosa; REZENDE FILHO, Jorge de. Rezende Obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

