Hoje vamos explorar um tema fundamental: o oxalato de cálcio, um dos principais responsáveis pela formação de cálculos renais.
Trouxemos para você um conteúdo claro e objetivo para aprofundar seus conhecimentos e aprimorar sua prática clínica.
Vamos lá!
Definição de oxalato de cálcio
O oxalato de cálcio é um composto químico resultante da combinação de cálcio com oxalato — uma substância encontrada em alimentos como espinafre, beterraba e nozes, além de ser produzida pelo metabolismo corporal.
Quando presente na urina, o oxalato de cálcio pode cristalizar, formando cristais que têm formato característico de envelope. Em pequenas quantidades, esses cristais podem ser considerados normais, especialmente na ausência de sintomas.
Porém, seu acúmulo excessivo pode levar à formação de cálculos renais, condição associada a fatores como dieta rica em oxalato, baixa ingestão de líquidos e distúrbios metabólicos. A detecção desses cristais por exames urinários é essencial para o diagnóstico e manejo adequado da litíase renal.
Principais causas da presença de cristais de oxalato de cálcio na urina
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Consumo excessivo de alimentos ricos em oxalato: Espinafre, ruibarbo, beterraba, nozes, chocolate e chá preto são exemplos que, se ingeridos em grandes quantidades, elevam os níveis urinários de oxalato, facilitando a cristalização.
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Hiperoxalúria: Pode ser primária (genética, com produção excessiva de oxalato) ou secundária (decorrente de maior absorção intestinal, como em doenças celíacas, ressecções intestinais ou má absorção de gorduras).
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Alterações no metabolismo do cálcio: Baixos níveis de cálcio na urina (hipocalciúria) podem aumentar a excreção de oxalato. Além disso, a acidose metabólica diminui a excreção de citrato — um inibidor natural da cristalização — aumentando o risco de formação dos cálculos.
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Uso de suplementos e outros fatores: Altas doses de vitamina C podem aumentar a produção de oxalato. A desidratação eleva a concentração urinária, favorecendo a cristalização, e infecções urinárias podem modificar a composição da urina, contribuindo para o problema.
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Condições clínicas específicas: Síndrome do intestino curto e outras doenças que aumentam a absorção intestinal de oxalato também são relevantes.
Estratégias para prevenir a formação de cálculos de oxalato de cálcio
Modificações alimentares:
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Aumentar a ingestão de líquidos para diluir a urina, reduzindo a concentração de cálcio e oxalato.
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Manter consumo adequado de cálcio (800 a 1000 mg/dia), preferencialmente via alimentos lácteos, evitando suplementos desnecessários.
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Reduzir a ingestão de proteína animal não láctea para diminuir a acidose urinária que favorece os cálculos.
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Limitar alimentos ricos em oxalato, como espinafre e nozes, mas sem restrições extremas para garantir uma dieta equilibrada.
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Evitar suplementos de vitamina C em doses elevadas.
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Controlar o consumo de sacarose e frutose, que podem aumentar o cálcio urinário.
Baixos níveis de citrato na urina:
Pacientes com cálculos recorrentes geralmente apresentam citrato urinário reduzido. Nesses casos, o uso de citrato de potássio ou bicarbonato de potássio é indicado para aumentar o citrato urinário, que impede a formação de cristais ao se ligar ao cálcio.
Terapia medicamentosa:
Indicada quando a modificação dietética não é suficiente para prevenir a recorrência ou crescimento dos cálculos. O tratamento visa evitar a precipitação do oxalato de cálcio, não sendo eficaz para dissolver cálculos já formados.
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Para níveis elevados de ácido úrico, o alopurinol é indicado.
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Para baixos níveis de citrato, citrato ou bicarbonato de potássio.
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Para pacientes com hipercalciúria, diuréticos tiazídicos de ação prolongada, como clortalidona ou indapamida, são preferidos.
A monitorização contínua da química urinária e ajustes na dieta, especialmente no consumo de sódio, são importantes para o sucesso do tratamento.
Referências
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CURHAN, Gary C. Kidney stones in adults: Prevention of recurrent kidney stones. UpToDate, 2024.
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CURHAN, Gary C. Kidney stones in adults: Epidemiology and risk factors. UpToDate, 2024.
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MUNDT, Lilian A.; SHANAHAN, Kristy. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.