Deglutição: definição, fases e mecanismos envolvidos

Preparado para revisar mais um tema indispensável? O assunto de hoje é a deglutição, um processo fisiológico altamente coordenado, responsável por conduzir os alimentos da cavidade oral até o estômago de forma segura.

Este guia foi elaborado para facilitar sua compreensão sobre o tema, tornando o aprendizado mais claro e aplicável à prática clínica.


Definição de Deglutição

A deglutição é um reflexo complexo e fundamental, cuja função principal é transportar sólidos e líquidos da boca até o estômago, dando continuidade ao processo digestivo. Para que isso aconteça, ocorre um movimento coordenado — denominado propulsão — que depende da integração de diversas estruturas anatômicas, como boca, faringe e esôfago.

A faringe atua como via comum para respiração e alimentação, desempenhando papel transitório durante a passagem do bolo alimentar. Esse transporte dura apenas alguns segundos, mas requer que a respiração seja interrompida momentaneamente, evitando a aspiração.

O mecanismo da deglutição depende da atuação conjunta de músculos e nervos, garantindo que o trajeto do alimento ocorra de forma ordenada, eficiente e segura.


Fase pré-deglutição

Antes do ato de deglutir, a ingestão alimentar é regulada por dois fatores: a fome, que determina a quantidade de alimento consumido, e o apetite, que influencia o tipo de alimento escolhido. Ambos funcionam como mecanismos automáticos essenciais para assegurar nutrição adequada.

Nesse contexto, destaca-se a mastigação, processo fundamental para o preparo mecânico dos alimentos.

Mastigação

Os dentes apresentam funções específicas: os incisivos cortam os alimentos, enquanto os molares realizam a trituração. Os músculos da mandíbula, capazes de gerar forças consideráveis — cerca de 25 kg nos incisivos e até 91 kg nos molares — são responsáveis pela execução desse movimento.

Grande parte desses músculos recebe inervação do ramo motor do nervo trigêmeo (NC V), sendo o controle exercido por centros localizados no tronco encefálico. A mastigação pode ser desencadeada por estímulos das áreas reticulares associadas ao paladar, além de influências de regiões como o hipotálamo, amígdala e córtex cerebral, que modulam o reflexo mastigatório.

Entre os músculos envolvidos no movimento mandibular estão:

  • Temporal – eleva e retrai a mandíbula;

  • Masseter – eleva e auxilia na protrusão;

  • Pterigoideo lateral – projeta a mandíbula e promove movimentos laterais;

  • Pterigoideo medial – eleva e contribui para a protrusão.

A mastigação é regulada principalmente pelo reflexo mastigatório. A presença de alimento na boca leva a uma breve inibição dos músculos mastigatórios, permitindo o abaixamento da mandíbula. Esse movimento desencadeia um reflexo de estiramento que provoca a contração dos músculos, elevando a mandíbula novamente e comprimindo o bolo alimentar. O ciclo se repete até que os alimentos estejam adequadamente fragmentados.


Estágios da deglutição

Estágio voluntário (fase oral ou bucal)

Corresponde ao início da deglutição, controlado de forma consciente. Nessa etapa, a língua pressiona o bolo alimentar contra o palato duro e o direciona para a orofaringe.

O contato do alimento com a orofaringe posterior estimula receptores sensitivos ligados ao nervo glossofaríngeo (NC IX), que enviam sinais ao centro da deglutição no tronco encefálico.

Após esse ponto, o processo torna-se involuntário, e o esfíncter esofágico superior permanece fechado até a progressão para as fases seguintes.


Estágio faríngeo

Etapa reflexa e involuntária, desencadeada quando o bolo alimentar alcança a faringe. Receptores localizados principalmente nos pilares tonsilares transmitem impulsos ao tronco encefálico, iniciando uma série de respostas coordenadas.

  • O palato mole é elevado, bloqueando a nasofaringe e prevenindo refluxo.

  • As pregas palatofaríngeas se aproximam, permitindo a passagem do bolo, mas impedindo objetos maiores.

  • A laringe é tracionada para cima e para frente, aproximando as cordas vocais.

  • A epiglote desce parcialmente, protegendo a entrada da traqueia.

  • O esfíncter esofágico superior relaxa, permitindo a passagem do bolo.

O movimento ascendente da laringe facilita a abertura do esôfago, e o transporte do alimento é assegurado por contrações peristálticas. Durante todo o processo, a respiração é interrompida por alguns segundos, assegurando proteção das vias aéreas.


Estágio esofágico

Responsável por conduzir o alimento da faringe ao estômago. Esse transporte ocorre por meio de dois tipos de peristaltismo:

  • Peristaltismo primário: continuidade da onda gerada na faringe, levando o bolo ao estômago em 8 a 10 segundos (ou 5 a 8 segundos, quando em posição ereta).

  • Peristaltismo secundário: ocorre quando resíduos permanecem no esôfago, sendo desencadeado pela distensão local.

A musculatura esofágica apresenta composição distinta: o terço superior é formado por músculo estriado (controlado pelos nervos glossofaríngeo e vago), enquanto os dois terços inferiores contêm músculo liso, regulado pelo nervo vago e pelo sistema nervoso mioentérico.

Ao se aproximar do estômago, ocorre o relaxamento receptivo, preparando-o para receber o alimento. O esfíncter esofágico inferior, normalmente contraído para impedir refluxo, relaxa durante a deglutição. Alterações nesse mecanismo, como na acalasia, dificultam a passagem do bolo alimentar.

Dois sistemas previnem o refluxo gastroesofágico:

  1. O tônus do esfíncter esofágico inferior;

  2. O mecanismo valvular na junção esofagogástrica, que resiste ao aumento da pressão intra-abdominal.


Referências

  • MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

  • GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Elsevier, 2017.

  • MENAKER, L.

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