Tudo Sobre Antimicrobianos: Tipos, Uso e Cuidados

Os antimicrobianos transformaram a medicina moderna ao permitir o tratamento eficaz de infecções que, antigamente, apresentavam alta mortalidade. Entretanto, o uso inadequado desses medicamentos tem favorecido o aumento da resistência bacteriana, representando um problema de saúde pública global. Para alcançar bons resultados terapêuticos e reduzir efeitos adversos, é essencial selecionar o antimicrobiano correto, considerando critérios clínicos e microbiológicos. Este artigo aborda os principais aspectos sobre os antimicrobianos, incluindo conceito, classificação, farmacocinética, farmacodinâmica, critérios de escolha, resistência bacteriana e estratégias para uso racional.

O crescimento da resistência antimicrobiana tem dificultado o controle de infecções previamente tratáveis, exigindo prescrições mais criteriosas e conscientes.


Conceito de antimicrobianos

Antimicrobianos são substâncias capazes de impedir o crescimento ou eliminar microrganismos patogênicos, sendo amplamente empregados no tratamento e na prevenção de infecções. Eles podem atuar sobre diversos agentes infecciosos, incluindo bactérias, vírus, fungos e parasitas.

De forma geral, os antimicrobianos incluem:

  • Antibióticos: produzidos por microrganismos e, eventualmente, modificados em laboratório.

  • Quimioterápicos: sintetizados artificialmente.

Ambos são essenciais para o manejo de infecções e prevenção de complicações clínicas.


Classificação dos antimicrobianos

A classificação pode ser feita de acordo com o efeito sobre os microrganismos, mecanismo de ação, espectro de atividade ou origem.

Quanto ao efeito sobre as bactérias

  • Bactericidas: promovem a morte das bactérias atacando estruturas essenciais, como a parede celular ou o DNA. Exemplos: beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas), aminoglicosídeos e fluoroquinolonas.

  • Bacteriostáticos: inibem a multiplicação bacteriana, permitindo que o sistema imunológico elimine o patógeno. Exemplos: macrolídeos, tetraciclinas e sulfonamidas.

Quanto ao mecanismo de ação

  • Inibidores da síntese da parede celular: impedem a formação da parede bacteriana, tornando as bactérias suscetíveis à lise. Ex.: beta-lactâmicos e glicopeptídeos (vancomicina).

  • Inibidores da síntese proteica: bloqueiam a produção de proteínas essenciais ao crescimento bacteriano. Ex.: aminoglicosídeos, tetraciclinas, macrolídeos, lincosamidas.

  • Inibidores da síntese de ácidos nucleicos: interferem na replicação do DNA ou na transcrição do RNA. Ex.: fluoroquinolonas, rifampicina.

  • Inibidores da síntese de folato: bloqueiam a produção de ácido fólico, necessário para replicação bacteriana. Ex.: sulfonamidas, trimetoprima.

Quanto ao espectro de ação

  • Amplo espectro: atuam contra diversos tipos de bactérias (gram-positivas e gram-negativas). Ex.: cefalosporinas de 3ª geração, carbapenêmicos.

  • Espectro reduzido: agem apenas sobre determinados grupos bacterianos. Ex.: vancomicina (gram-positivas), aztreonam (gram-negativas).

Quanto à origem

  • Naturais: produzidos por microrganismos, como a penicilina.

  • Semissintéticos: derivados de compostos naturais, com modificações químicas para melhorar eficácia e estabilidade. Ex.: amoxicilina.

  • Sintéticos: totalmente desenvolvidos em laboratório. Ex.: sulfonamidas, fluoroquinolonas.


Farmacocinética e farmacodinâmica dos antimicrobianos

A ação dos antimicrobianos depende de fatores relacionados ao fármaco, ao microrganismo e ao paciente. Compreender farmacocinética (PK) e farmacodinâmica (PD) é crucial para uma prescrição adequada.

Farmacocinética

A farmacocinética descreve o caminho do fármaco no organismo:

  1. Absorção: ingresso do medicamento na circulação. Exemplos: via oral (fluoroquinolonas, tetraciclinas) e intravenosa (ação imediata). Fatores como alimentos e íons metálicos podem interferir na absorção.

  2. Distribuição: dispersão do fármaco nos tecidos. O volume de distribuição (Vd) indica a extensão da penetração. Drogas lipofílicas (rifampicina) penetram tecidos profundos; hidrofílicas (aminoglicosídeos) permanecem no espaço extracelular.

  3. Metabolismo: alteração do fármaco no fígado. Penicilinas e cefalosporinas têm metabolismo mínimo; rifampicina é extensamente metabolizada.

  4. Eliminação: via renal ou hepática. Aminoglicosídeos e beta-lactâmicos são excretados pelos rins; macrolídeos e tetraciclinas pelo fígado.

Farmacodinâmica

Avalia a relação entre concentração do antimicrobiano e efeito sobre o microrganismo:

  • Dependente da concentração: eficácia maximizada por altas doses (fluoroquinolonas, aminoglicosídeos).

  • Dependente do tempo: eficácia relacionada ao tempo acima da CIM (beta-lactâmicos, macrolídeos).

  • Dependente da AUC/CIM: combina concentração e tempo de exposição (vancomicina).


Critérios para escolha do antimicrobiano

Fatores relacionados ao paciente

  • Idade: recém-nascidos e idosos podem exigir ajustes de dose.

  • Função renal/hepática: insuficiência renal ou hepática altera metabolismo e excreção.

  • Alergias: histórico de reações, principalmente a beta-lactâmicos, deve ser avaliado.

  • Imunidade: pacientes imunossuprimidos podem necessitar de antibióticos bactericidas.

  • Gravidez e lactação: alguns fármacos são teratogênicos (ex.: tetraciclinas).

Fatores relacionados ao microrganismo

  • Agente provável: baseado em sítio da infecção e patógenos mais comuns.

  • Perfil de resistência local: importante para evitar uso de antimicrobianos ineficazes.

  • Teste de sensibilidade: cultura e antibiograma permitem tratamento dirigido.

Fatores relacionados ao medicamento

  • Espectro de ação: amplo espectro para infecções graves; reduzido para patógenos conhecidos.

  • Penetração tecidual: necessária em locais de difícil acesso (ex.: SNC).

  • PK/PD: influência na frequência e dose de administração.

  • Interações medicamentosas: revisão de possíveis efeitos adversos combinados.

  • Toxicidade: aminoglicosídeos podem causar nefro e ototoxicidade.


Resistência bacteriana

Como surge a resistência?

  • Intrínseca: característica natural da bactéria que a torna insensível a certos antibióticos (ex.: vancomicina não atua em gram-negativas).

  • Adquirida: bactéria sensível torna-se resistente por mutações ou aquisição de genes de resistência, transmitidos via transformação, transdução ou conjugação.

Principais mecanismos de resistência

  1. Produção de enzimas inativadoras: degradam ou alteram o antibiótico (ex.: beta-lactamases, ESBLs, carbapenemases).

  2. Alteração do alvo: mutações reduzem afinidade do fármaco (ex.: macrolídeos e rifampicina).

  3. Redução da permeabilidade: diminuição da entrada do antibiótico (ex.: Pseudomonas aeruginosa).

  4. Bombas de efluxo: expulsão ativa do fármaco, comum em tetraciclinas e fluoroquinolonas.

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