Hoje vamos abordar um tema essencial da anatomia do tornozelo: o maléolo, uma estrutura óssea fundamental que garante suporte, estabilidade e mobilidade à articulação talocrural. Este resumo visa simplificar o conteúdo e ajudá-lo a fortalecer sua prática clínica com segurança e precisão.
Formação do Maléolo
O maléolo corresponde às projeções ósseas na extremidade distal da perna, sendo dividido em maléolo medial (tíbia) e maléolo lateral (fíbula). Ambos são essenciais para a articulação do tornozelo, formando um “garfo” que acomoda o tálus.
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Maléolo medial: localizado na extremidade distal da tíbia, possui superfície lisa recoberta por cartilagem hialina. Sua extremidade inferior arredondada facilita o encaixe com o tálus, garantindo estabilidade medial. É facilmente palpável, marcando o contorno interno do tornozelo.
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Maléolo lateral: situado na extremidade distal da fíbula, é mais alongado e inclinado posteriormente, permitindo um encaixe firme com o tálus. Sua superfície articular também é recoberta por cartilagem hialina, e a proeminência facilita identificação e palpação na região lateral do tornozelo.
Articulação Talocrural
A articulação do tornozelo, ou talocrural, é uma articulação sinovial do tipo gínglimo que conecta a perna ao pé. É formada por:
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Tíbia: fornece o maléolo medial e contribui para a articulação com o lado medial do tálus.
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Fíbula: apresenta o maléolo lateral, que se articula com o lado externo do tálus.
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Tálus: possui a tróclea superior convexa, encaixando-se no garfo formado pelos maléolos, conferindo estabilidade e mobilidade.
A cápsula articular envolve as superfícies articulares, sendo fina anteriormente e posteriormente, permitindo dorsiflexão e flexão plantar. As laterais são reforçadas pelos ligamentos colaterais:
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Ligamento colateral medial (deltoide): conecta o maléolo medial ao tálus, calcâneo e navicular; composto por quatro fascículos que estabilizam o tornozelo medialmente.
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Ligamento colateral lateral: liga o maléolo lateral ao tálus e calcâneo, com três fascículos: talofibular anterior, talofibular posterior e calcaneofibular, garantindo estabilidade lateral.
Movimentos principais:
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Flexão plantar: pé apontando para baixo, aproxima-se da planta.
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Dorsiflexão: pé se move para cima, aproximando-se da tíbia.
A articulação é mais estável em dorsiflexão, devido ao encaixe da tróclea do tálus no garfo tibiofibular. Na flexão plantar, a estabilidade diminui pela menor largura do tálus.
Função estrutural dos maléolos
Os maléolos são essenciais para estabilidade e suporte do tornozelo, limitando deslocamentos laterais do tálus.
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Maléolo medial: oferece sustentação interna, evitando deslizamento medial do tálus, distribuindo cargas e reforçando a articulação em dorsiflexão.
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Maléolo lateral: mais distal e proeminente, protege contra deslocamentos laterais e mantém alinhamento da articulação em movimentos de alta intensidade.
Juntos, formam uma base sólida que suporta cargas, mantém mobilidade e protege o tornozelo de lesões.
Fraturas na região maleolar
As fraturas maleolares são comuns e podem envolver o maléolo medial, lateral ou ambos, variando conforme o mecanismo de trauma e estruturas comprometidas.
Mecanismos de trauma:
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Torções: inversão (supinação) ou eversão (pronação) do pé.
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Impactos diretos: acidentes ou quedas.
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Combinação de forças: rotação, adução ou abdução, influenciando o padrão de fratura.
Classificações:
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Lauge-Hansen: baseada no mecanismo de trauma (supinação-adução, supinação-rotação externa, pronação-abdução, pronação-rotação externa).
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Weber: considera o traço de fratura em relação à sindesmose (tipo A: abaixo; tipo B: nível; tipo C: acima).
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AO: nomenclatura alfanumérica detalhada, útil no planejamento terapêutico.
Diagnóstico e tratamento:
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Avaliação clínica: dor, edema, incapacidade funcional.
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Exames de imagem: radiografia inicial; tomografia em casos complexos.
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Tratamento:
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Fraturas estáveis: imobilização conservadora.
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Fraturas instáveis ou incongruentes: redução anatômica e fixação cirúrgica; em fraturas suprassindesmais, estabilização da sindesmose.
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Complicações: instabilidade crônica, pseudoartrose, artrite pós-traumática (até 18 meses após redução inadequada). Reabilitação precoce é crucial para recuperação funcional.
Referências
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WASCHKE, Jens; BÖCKERS, Tobias M.; PAULSEN, Friedrich. Sobotta Anatomia Clínica. 1ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
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MOTTA FILHO, Geraldo da Rocha; BARROS FILHO, Tarcisio Eloy Pessoa de. Ortopedia e Traumatologia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
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MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R. Anatomia Orientada para a Clínica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.