Região Occipital: anatomia, funções e implicações clínicas

A região occipital corresponde à porção posterior do cérebro e constitui o menor dos quatro lobos cerebrais. Apesar do tamanho reduzido, é fundamental para o sistema visual, pois abriga áreas responsáveis pelo recebimento, processamento e interpretação das informações captadas pelos olhos.

Neste conteúdo, serão abordados aspectos anatômicos, embriológicos e funcionais do lobo occipital, bem como as repercussões clínicas de lesões nessa região, que podem gerar desde distúrbios parciais da visão até cegueira cortical.


Conceito de Região Occipital

O lobo occipital é a menor subdivisão cortical e localiza-se na parte mais posterior do encéfalo, abaixo do osso occipital. Ele está posicionado atrás dos lobos parietal e temporal, dos quais se separa por delimitações anatômicas específicas, como a fissura parieto-occipital.

Essa região é reconhecida como o centro principal do processamento visual. Sua estrutura é composta por áreas anatômicas e funcionais especializadas, entre elas o córtex visual primário e o córtex visual secundário, que atuam respectivamente na recepção inicial dos estímulos e na integração mais elaborada das informações visuais. Assim, o lobo occipital desempenha funções essenciais na percepção do ambiente, como reconhecimento de formas, cores, objetos e rostos.


Embriologia da Região Occipital

O desenvolvimento embrionário do lobo occipital ocorre a partir do telencéfalo, estrutura derivada do prosencéfalo, que é uma das três vesículas encefálicas primárias formadas durante a organogênese.

O processo tem início na terceira semana de gestação, quando o ectoderma embrionário diferencia-se em células neuroectodérmicas, responsáveis pela formação do sistema nervoso central.

Na quarta semana, o tubo neural dá origem às três vesículas primárias: prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. Na sequência, por volta da quinta semana, o prosencéfalo subdivide-se em telencéfalo e diencéfalo. É a partir do telencéfalo que se originam os hemisférios cerebrais, incluindo o lobo occipital.

Durante o segundo trimestre gestacional, o cérebro passa a apresentar suas principais estruturas anatômicas, e no terceiro trimestre já são visíveis as circunvoluções e sulcos característicos, como a fissura calcarina e os giros occipitais. Ao final da gestação, o lobo occipital encontra-se plenamente formado, pronto para exercer suas funções após o nascimento.


Anatomia da Região Occipital

O lobo occipital é delimitado por sulcos e fissuras que o separam dos lobos vizinhos.

  • Superfície medial: a fissura parieto-occipital demarca a divisão entre os lobos parietal e occipital.

  • Superfície lateral: uma linha imaginária que liga a fissura parieto-occipital à incisura pré-occipital separa o lobo occipital do lobo temporal.

A superfície occipital apresenta elevações chamadas giros e depressões conhecidas como sulcos. Entre os principais sulcos destacam-se:

  • Sulco intra-occipital: que se prolonga do lobo parietal para a região occipital;

  • Sulco occipital lateral: responsável por dividir a face lateral em giros superior e inferior;

  • Sulco occipital transverso: localizado na face superolateral.

Na face medial do lobo occipital, a fissura calcarina constitui uma das estruturas mais importantes. Essa fissura se estende desde a fissura parieto-occipital até o polo occipital, abrigando em suas margens o córtex visual primário (área 17 de Brodmann), que recebe estímulos da retina por meio do tálamo.

A fissura calcarina divide a superfície medial em duas regiões: o cuneus (parte superior) e o giro lingual (parte inferior). Logo abaixo deste, encontra-se o giro fusiforme, prolongamento do lobo temporal, cuja função é processar informações visuais relacionadas a objetos e faces.


Função da Região Occipital

A principal função do lobo occipital é o processamento visual.

  • O córtex visual primário (área 17 de Brodmann) é responsável pela interpretação inicial de informações visuais, analisando aspectos como forma, cor e movimento.

  • As áreas visuais secundárias e associativas (áreas 18 e 19 de Brodmann) refinam e integram essas informações, possibilitando tarefas mais complexas, como reconhecimento de rostos, percepção de profundidade e interpretação das cores.

O processamento visual no lobo occipital ocorre por duas vias principais:

  1. Via dorsal (occipito-parietal): responsável pela análise do movimento e da localização espacial dos objetos.

  2. Via ventral (occipito-temporal): relacionada à identificação de formas, cores e ao reconhecimento de objetos e faces.

Assim, o lobo occipital não apenas recebe estímulos visuais, mas também os organiza e os integra de forma a permitir a interpretação adequada do mundo ao redor.


Lesões na Região Occipital

As lesões nessa região podem decorrer de acidentes vasculares cerebrais, traumas cranianos, tumores, infecções ou crises epilépticas. Como o lobo occipital é a principal área visual do cérebro, danos em suas estruturas provocam diferentes graus de déficit visual.

  • Lesões unilaterais: costumam provocar hemianopia homônima contralateral, condição em que o paciente perde metade do campo visual em ambos os olhos, do lado oposto à lesão.

  • Quando a área afetada corresponde à irrigação da artéria cerebral posterior, pode ocorrer hemianopia com preservação macular, já que a artéria cerebral média fornece suprimento sanguíneo adicional para a região central da retina.

  • Lesões bilaterais: podem causar cegueira cortical, em que há perda completa da visão, mesmo que os olhos e nervos ópticos estejam preservados. Nesses casos, pode surgir a Síndrome de Anton, caracterizada pela negação da cegueira pelo paciente.

  • Outro distúrbio raro é a Síndrome de Riddoch, na qual a pessoa só consegue perceber objetos em movimento, sem identificar objetos estáticos.

Além disso, lesões occipitais podem resultar em alucinações visuais, agnosia visual (incapacidade de reconhecer objetos visuais) e diferentes distúrbios perceptivos, dependendo da área específica afetada.



Referência

REHMAN, Amna; AL KHALILI, Yasir. Neuroanatomy, Occipital Lobe. StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544320/. Acesso em: 29 set. 2024.

Novidades

Princípios de Biofísica aplicados à Medicina

A Biofísica aplicada à Medicina dedica-se ao estudo dos processos físicos que influenciam diretamente funções biológicas, como circulação sanguínea, visão, audição, condução neuronal e termorregulação. Essa área interdisciplinar combina conhecimentos

Leia MAid »