Pronto para aprofundar seus conhecimentos em fisiologia renal? Hoje vamos abordar a diurese, um processo fundamental no equilíbrio hidroeletrolítico e na homeostase corporal. Continue lendo para entender o conceito, as fases da formação da urina, a importância da diurese em pacientes hospitalizados e as principais alterações clínicas.
O que é Diurese?
A diurese representa o processo fisiológico de produção e eliminação da urina, envolvendo aspectos quantitativos e qualitativos.
Quantitativamente, refere-se ao volume de urina eliminado em determinado período, podendo ser mensurado em mL/min, mL/dia ou L/dia. O volume urinário normal diário varia entre 800 mL e 1500 mL, influenciado principalmente pela ingestão hídrica.
Qualitativamente, considera-se a composição da urina, que contém água, eletrólitos (como sódio, potássio e cloreto) e substâncias orgânicas (ureia, creatinina, entre outras).
A urina segue um trajeto definido: é produzida nos rins, transportada pelos ureteres, armazenada na bexiga e eliminada pela uretra durante a micção.
Etapas da formação da urina
A produção de urina nos néfrons renais ocorre em três fases principais:
1. Filtração glomerular
O sangue que chega aos glomérulos passa por um processo de filtração sob pressão. A membrana de filtração, composta por endotélio capilar, membrana basal e epitélio da cápsula de Bowman, atua como barreira seletiva.
As fendas de filtração e fenestrações permitem a passagem de pequenas moléculas como água e íons, mas impedem a perda de proteínas plasmáticas. A taxa média de filtração glomerular (TFG) é de cerca de 125 mL/min, totalizando aproximadamente 180 litros de filtrado por dia.
2. Reabsorção tubular
Grande parte do filtrado glomerular é reabsorvida nos túbulos renais, especialmente no túbulo contorcido proximal. Esse processo devolve água, eletrólitos, glicose e aminoácidos à corrente sanguínea.
A reabsorção ocorre por diferentes mecanismos:
-
Transporte ativo
-
Osmose
-
Difusão simples ou facilitada
-
Pinocitose
Hormônios como o ADH (hormônio antidiurético) e a aldosterona modulam a reabsorção nos túbulos distais e ductos coletores.
3. Secreção tubular
Substâncias indesejadas — como íons H⁺, resíduos metabólicos e fármacos — são ativamente secretadas do sangue para o lúmen tubular, completando a formação da urina final.
O equilíbrio entre filtração, reabsorção e secreção é regulado por mecanismos:
-
Intrínsecos: autorregulação renal
-
Extrínsecos: sistema nervoso simpático, hormônios (renina-angiotensina-aldosterona, ADH), autacoides
Ao final do processo, cerca de 1 a 2 litros de urina são excretados diariamente.
Por que avaliar a diurese em pacientes hospitalizados?
A monitorização da diurese em pacientes internados é uma ferramenta clínica crucial para avaliar:
-
Função renal
-
Estado de hidratação
-
Efetividade de intervenções clínicas
Reduções ou elevações abruptas na produção urinária podem sinalizar:
-
Insuficiência renal aguda
-
Desidratação
-
Sobrecarga de volume
Além disso, guiam decisões terapêuticas, como o ajuste de infusões intravenosas ou uso de diuréticos. A diurese é frequentemente registrada como diurese horária, especialmente em pacientes críticos.
Situações que causam redução da diurese (oligúria ou anúria)
A oligúria (diurese < 400 mL/dia) e a anúria (diurese < 100 mL/dia) refletem comprometimentos graves na função renal ou no fluxo urinário. Entre as principais causas, destacam-se:
-
Insuficiência Renal Aguda (IRA): falência súbita dos rins, comum em quadros de sepse, nefrotoxicidade ou obstruções.
-
Choque hipovolêmico: redução do volume circulante por hemorragia, desidratação ou queimaduras extensas.
-
Doenças cardíacas: a insuficiência cardíaca congestiva compromete a perfusão renal.
-
Obstrução das vias urinárias: cálculo renal, tumores ou hiperplasia prostática podem bloquear o fluxo urinário.
-
Síndrome nefrótica: leva à retenção de sódio e água, causando edema e menor volume urinário.
-
Choque séptico: estado inflamatório generalizado que prejudica a perfusão renal.
Situações que causam aumento da diurese (poliúria)
A poliúria (diurese > 2500 mL/dia) pode estar associada a diversos distúrbios metabólicos, hormonais ou medicamentosos. Entre os principais:
-
Diabetes mellitus: a glicosúria induz diurese osmótica.
-
Diabetes insipidus: ocorre por deficiência ou resistência à ação do ADH, resultando na perda excessiva de água.
-
Polidipsia psicogênica: ingestão exagerada de líquidos, comum em distúrbios psiquiátricos.
-
Insuficiência renal crônica: nos estágios iniciais, há perda da capacidade de concentração urinária.
-
Uso de diuréticos: promovem excreção renal de sódio e água (ex: furosemida, hidroclorotiazida).
-
Hipercalcemia: níveis elevados de cálcio interferem na capacidade de concentração urinária.
A poliúria deve ser cuidadosamente avaliada, especialmente em pacientes com distúrbios endocrinológicos ou uso contínuo de medicamentos nefroativos.
Referências
-
Barrisford GW, Steele GS. Acute Urinary Retention. UpToDate, 2024.
-
Bichet DG. Evaluation of Patients with Polyuria. UpToDate, 2024.
-
Nardi AC et al. Urologia Brasil. SBU – Sociedade Brasileira de Urologia, 2013.